Wednesday, February 28, 2007

Gloria cuique sua est

O brilho dos teus olhos faz-me pensar
talvez
o frio não me tenha comido as entranhas
talvez
a lista negra não mencione o meu nome
sei
a minha miopia é apenas uma distorção no espelho
saberei
ver a diferença
sabes...



**Capítulo 6: O Brilho nos Olhos**

Numa noite estrelada, Maria olhou profundamente nos olhos de André. O brilho intenso que encontrou lá fez com que ela pensasse, talvez, o frio que a havia atormentado por tanto tempo não tivesse devorado suas entranhas, talvez a lista negra que ela temia não incluísse o seu nome.

Ela estava ciente de sua própria miopia, de como via o mundo através de uma lente embaçada, uma distorção no espelho de sua mente. No entanto, naquele momento, enquanto olhava nos olhos de André, ela se perguntou se estava finalmente aprendendo a ver a diferença.

Ela sabia que havia uma linha tênue entre o medo e a coragem, entre a autocrítica e a autoaceitação. Maria percebeu que, ao longo da vida, muitas vezes nos limitamos com inseguranças autoimpostas. A lista negra que ela imaginava talvez não existisse de fato, e o frio que sentia talvez fosse apenas uma criação de sua mente.

No olhar de André, Maria encontrou um espelho que refletia não só o que ela era, mas o que poderia ser. Ela entendeu que o brilho nos olhos de alguém poderia ser um farol de esperança, guiando-a para longe das sombras de suas próprias dúvidas.

E assim, naquele momento de conexão, Maria percebeu que a miopia podia ser curada pela visão clara e pelo amor. Ela sabia que tinha encontrado alguém que a ajudaria a ver a diferença, a separar o real do imaginário, o medo da coragem. Juntos, eles navegariam pelos desafios da vida, com o brilho nos olhos como sua bússola, iluminando o caminho em direção à autenticidade e ao amor verdadeiro.

Tuesday, February 27, 2007

Fear



And the angel stood there, at the edge of the precipice…
a scared and helpless animal broken down by fear.



And the angel stood there, at the edge of the precipice, a solitary figure against the backdrop of an unforgiving world. The winds howled, and the abyss below seemed like an endless chasm, a void of darkness.

In that moment, the angel appeared as a paradox, for despite the celestial grace that had once defined them, they now stood as a scared and helpless creature, broken down by the weight of fear. Their wings, once a symbol of freedom and divinity, drooped with weariness, their feathers tattered by the tempestuous journey through the harsh realities of existence.

The angel gazed into the abyss, uncertainty and doubt clouding their once-illuminated eyes. Questions swirled in their mind, like tempestuous winds that threatened to sweep them away. How had they come to this point? How had the celestial being fallen so far, standing at the precipice of despair?

It was a moment of profound vulnerability, a stark reminder that even celestial beings could be humbled by the trials of life. The angel's presence at the edge of the precipice was a testament to the universal struggle against fear, the human experience of being broken down, and the courageous stand taken in the face of uncertainty.

As the angel teetered on the edge, a faint glimmer of determination emerged within them. Despite the fear and vulnerability, a spark of resilience ignited. With a deep breath, they took a step back from the abyss, their wings stretching as if to embrace the unknown.

The angel may have been scared and broken down, but they were not defeated. They stood at the precipice, not as a symbol of weakness, but as a testament to the strength that could be found in vulnerability, and the resilience to rise once more from the depths of fear.

Monday, February 26, 2007

Tempo...

Sinto a força dos dias que passam
o vazio que cresce
dentro e fora do meu tempo
a ausência torna-se comum
a inexistência de dor quando algo morre e o tempo se perde...


Capítulo 8: O Vazio do Tempo

Laura contemplou a janela em seu quarto, perdida em pensamentos profundos enquanto observava a paisagem lá fora. Ela sentia a força implacável dos dias que passavam, como se o tempo escorresse por entre seus dedos. A vida seguia seu curso, e ela se via arrastada por uma correnteza invisível.

O vazio interior que crescia a cada dia parecia envolvê-la, tornando-se uma parte de sua própria essência. Era um sentimento estranho, um vazio que não se limitava ao seu mundo interior, mas também se estendia ao mundo que a cercava. O cinza das ruas, o murmúrio das pessoas, tudo parecia desprovido de cor e significado.

Era como se a ausência se tornasse sua companheira constante, uma sombra que a seguia aonde quer que fosse. Às vezes, parecia que a inexistência da dor era a única constante em sua vida. Quando algo morria, quando o tempo se perdia, a sensação de alívio tomava conta dela.

Laura refletiu sobre a vida que ela construíra e sobre as escolhas que a tinham levado até ali. Ela se perguntou se havia se perdido em algum ponto do caminho, se havia deixado de seguir suas paixões e desejos para se encaixar nas expectativas dos outros. O tempo passara rápido demais, e ela se sentia como se estivesse presa em uma realidade monótona.

No entanto, naquele momento de reflexão, Laura também percebeu que o vazio podia ser preenchido. Ela podia escolher reacender suas paixões, buscar novos horizontes e abraçar a beleza que ainda existia no mundo ao seu redor. A ausência de dor não precisava ser sua única companhia; ela podia encontrar a alegria novamente e dar um novo significado ao tempo que lhe restava.

O vazio do tempo, a ausência e a inexistência da dor eram desafios que Laura estava determinada a superar. Ela sabia que a vida era uma jornada repleta de altos e baixos, e, mesmo diante do vazio, ainda havia espaço para a renovação e a redescoberta.

Credo quia absurdum (26/07/02)




O peso da idade caiu-me...maciço
nos ombros
pela primeira vez vi-me
caricatura odiosa e patética
daquele que eu nunca quis ser...


Acordas e vês-me do outro lado da cama
a cara pálida e enrugada de quem tem medo do que sonha
ao abraçares-me afagas as asas de um anjo caído...



**Capítulo 12: As Asas Caídas**

Naquela manhã cinzenta, Miguel despertou com o peso da idade sobre seus ombros. Os anos haviam passado como uma pedra maciça, e ele sentia o fardo de todas as escolhas e experiências que acumularam ao longo de sua vida. Ao se olhar no espelho, viu um reflexo que o surpreendeu, uma caricatura odiosa e patética de si mesmo, uma representação da pessoa que jurou nunca se tornar.

Seus olhos cansados e enrugados refletiam a jornada que ele havia percorrido, marcada por erros e medos que o assombravam. O espelho não era apenas uma superfície refletora, mas um portal para a autocrítica, um espelho de sua própria alma envelhecida.

Aos poucos, ele se ergueu da cama, sentindo as articulações rangendo como se fossem engrenagens enferrujadas. Seu corpo já não respondia com a mesma agilidade de outrora, e a ideia de que o tempo era implacável pesava sobre ele.

Do outro lado da cama, sua companheira de vida, Ana, acordou e olhou para Miguel com ternura. Seu rosto pálido e enrugado não era motivo de medo para ela, mas sim de compaixão. Ela enxergava nele a beleza das cicatrizes da vida, as marcas de um sobrevivente. Ao abraçá-lo, acariciou as asas de um anjo caído, as asas que, apesar de feridas, ainda eram capazes de voar.

Miguel sentiu o calor do abraço de Ana e percebeu que, apesar do peso da idade e das caricaturas que o assombravam, havia beleza na aceitação e no amor. Ele podia não ser mais o homem que imaginara, mas ainda era capaz de amar e ser amado. A idade, afinal, podia trazer sabedoria e uma apreciação mais profunda pelas coisas simples da vida.

Naquele momento, Miguel percebeu que a jornada da vida não era apenas sobre as estradas percorridas, mas também sobre as pessoas que encontramos ao longo do caminho e as maneiras como nos reinventamos, aceitando nossas imperfeições e buscando a redenção.






Elemento Constante


Entre tantos tempos...o teu
elemento constante no meu
sorriso...
vagamos juntos de hora em hora
na impaciência dos minutos...
passo
o chiar das portas na tua ausência
oiço
a ponta dos dedos no teu olhar
perdido no vazio de uma hesitação
calas-me
com um abraço….
tento compulsivamente erguer-te
a voz… calando-me sempre.
Preso entre o tempo que passa e a voz que me sussurra
ao ouvido
contraponto… ritmo
Vontade?


**Capítulo 5: Entre Tempos e Silêncio**

Ana e João compartilhavam um vínculo único, uma ligação que parecia transcender o próprio tempo. Eles eram o elemento constante um na vida do outro, um sorriso mútuo que persistia através das estações da vida.

Navegavam juntos, de hora em hora, pelos momentos de alegria e desafios. Suas vidas eram uma dança de impaciência, onde os minutos pareciam se esticar quando estavam separados. Cada segundo longe do outro era como uma espera interminável, e o chiar das portas na ausência do parceiro ecoava em suas mentes, lembrando-os da incompletude.

Os encontros eram marcados por gestos simples, mas significativos. João ouvia o som da ponta dos dedos de Ana nos momentos de hesitação, um sussurro de conforto no vazio das incertezas. Ana, por sua vez, silenciava João com um abraço, um abraço que falava mais do que as palavras poderiam expressar. Era um abraço que transcendia o espaço e o tempo, conectando-os em um nível profundo.

João desejava compulsivamente erguer a voz, compartilhar seus pensamentos e sentimentos com Ana. No entanto, uma força invisível o impedia, um silêncio que o envolvia e o detinha. Era como se o tempo, inexorável, tentasse sussurrar palavras ao seu ouvido, mas ele era incapaz de dar voz às emoções que fervilhavam em seu interior.

No entanto, entre os momentos de silêncio e o ritmo do tempo, Ana e João encontravam um contraponto, uma melodia única que era apenas deles. Era uma dança de vontade, um desejo ardente de compartilhar e se conectar, mesmo quando o silêncio reinava. Eles compreendiam que o amor verdadeiro ia além das palavras, transcendendo o tempo e o espaço. Era um elo eterno que persistia, não importando o que o destino reservasse.

Assim, entre os tempos e o silêncio, Ana e João continuaram sua jornada, abraçando cada instante como se fosse o último, e encontrando força na melodia única que só eles podiam ouvir.